sábado, 10 de janeiro de 2015

A desburocratização como processo de transição para a democracia em Angola

Segundo Piquet Carneiro, desburocratização significa não só eliminação ou redução de exigências legais e administrativas cujos custos se revelem desproporcionais à capacidade dos cidadãos e das empresas de atendê-las, mas também o combate sistemático à centralização administrativa que está na génese todos os outros males. Ao contrário da burocracia, cujo termo se associa à ideia de excesso de papel, de exigências e de formalidades (Carneiro, 2004).
No contexto angolano, a desburocratização é uma via para aprofundar o processo de democratização, processo que já passou pelas eleições legislativas e presidenciais de 1992 e as eleições legislativas de 2008 ganhas pelo MPLA. A consolidação na prática do processo de democratização implica o empenhamento dos partidos políticos em tal sentido. Segundo o nº1 do artigo 17º, da Constituição da República de Angola, os partidos políticos no quadro da presente Constituição e da lei, concorrem, em torno de um projecto de sociedade e de um programa político, para a organização e para a expressão da vontade dos cidadãos, participando na vida política e na expressão do sufrágio universal, por meios democráticos e pacíficos, com respeito pelos princípios da independência nacional, da unidade nacional e da democracia política. O nº4 do mesmo artigo refere que os partidos políticos têm direito a igualdade de tratamento por parte das entidades que exercem o poder público, direito a um tratamento imparcial da imprensa pública e direito de oposição democrática, nos termos da Constituição e da lei. Por sua vez o nº1, do artigo 2º estabelece que a República de Angola é um Estado democrático de direito que tem como fundamentos a soberania popular, o primado da Constituição e da lei, a separação de poderes e interdependência de funções, unidade nacional, o pluralismo de expressão e de organização política e a democracia representativa e participativa; o nº2, a República de Angola promove e defende os direitos e liberdades fundamentais do homem, quer como individuo quer como membro de grupos sociais organizados, e assegura o respeito e a garantia da sua efectivação pelos poderes legislativo, executivo e judicial, seus órgãos e instituições, bem como por todas as pessoas singulares e colectivas.
No processo de transição para a democracia em Angola, a desburocratização surge para desenvolver não apenas a economia do país como também garantir o aprofundamento e a solidificação do sistema democrático. A liberdade de escolha, de expressão, de religião, o direito de escuta, a livre circulação de pessoas e bens, a expansão dos serviços públicos em muitos os sectores são condições de base para a desburocratização. O nº1, do artigo 198º da Constituição da República de Angola refere que a administração pública prossegue, nos termos da Constituição e da lei, o interesse público, devendo, no exercício da sua actividade, reger-se pelos princípios da igualdade, legalidade, justiça, proporcionalidade, imparcialidade, responsabilização, probidade administrativa e respeito pelo património público. Os mesmos princípios constam também no Decreto-Lei nº3/10, que estabelece a Lei da Probidade Pública, no artigo3º. Tudo isto, com a finalidade de dar solução dos problemas sociais dos cidadãos e aproximá-los cada vez mais os serviços públicos.
Os princípios democráticos são muito exigentes na sua aplicação prática. Todas as democracias, embora respeitem a vontade da maioria, protegem escrupulosamente os direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias. Quanto aos governos a nível regional e local, supõe-se que sejam tão acessíveis e receptivos às pessoas quanto possível[1]. Pasquino afirma que a democracia, entre outras coisas, é a forma política que, ao longo dos tempos, revelou maior capacidade de adaptação a condições diversas e de aprendizagem, assim como maiores potencialidades de transformação (Pasquino, 2005).

Sempre a considerar,

Mestre Benvindo Luciano

Sociólogo e Docente Universitário



[1] http://www.embaixada-americana.org.br/democracia/what.htm

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