sábado, 10 de janeiro de 2015

Repensar o processo burocrático na administração municipal do Lobito

A administração burocrática, segundo Weber, caracteriza-se, como atrás assinalámos, pela hierarquia (cada funcionário tem uma competência claramente definida dentro da divisão hierárquica do trabalho e é responsável pelo seu cumprimento perante um superior); continuidade (existe uma ocupação remunerada a tempo inteiro, com uma estrutura de carreira que oferece perspectivas de promoção regular); impessoalidade (o trabalho é conduzido segundo regras prescritas, sem arbitrariedades ou favoritismos, e existe um registo escrito de cada transacção); e competência (os funcionários são seleccionados conforme o seu mérito, são treinados para as suas funções e controlam o acesso aos conhecimentos reunidos nos processos). Estes são critérios burocráticos para uma boa administração. Mas a principal característica da burocracia é a divisão sistemática do trabalho, pela qual os complexos problemas administrativos são reduzidos a tarefas viáveis e repetitivas, cada um respeitante a determinado serviço, e depois coordenados sob uma hierarquia de comando centralizado. Este padrão burocrático contribui para a satisfação dos critérios da eficiência.
Perante as patologias de ordem vária que historicamente se foram desenvolvendo no âmbito do aparelho burocrático, a questão que se levanta é: que fazer? A resposta passa pela compreensão exacta da burocracia para, a partir daí, ultrapassar os obstáculos que impedem que os processos de desburocratização sejam eficientes e eficazes. Segundo Piquet Carneiro, a verdade é que, mal ouvem a palavra burocracia, as pessoas começam a sentir-se desconfortáveis: lembram-se de certidões, filas, processos e exigências que não parecem fazer sentido; pressentem a demora para solucionar até problemas simples; sentem-se desamparadas com a falta de informações ou, o que é pior, com informações confusas e desencontradas; antecipam a necessidade de inúmeras idas e vindas ao mesmo lugar, peregrinações pelas repartições etc. Enfim, a burocracia é sinónimo de gastos, muitos gastos em tempo e dinheiro (Carneiro, 2004).
Dray refere que a desburocratização e a eficiência se podem considerar como as chaves do sucesso, único meio de garantir a inovação, a modernidade e a qualidade necessárias para dar corpo aos “princípios formas” e garantir que os “princípios finalidades” sejam alcançados. E o autor acrescenta que para se atingir a desburocratização e a eficiência é necessário actuar de forma sistemática e integrada em quatro vertentes fundamentais: desenvolvimento institucional; organização e gestão; desenvolvimento dos recursos humanos; e tecnologias de informação. Deste modo se pode chegar resultados palpáveis em domínios como a identificação dos procedimentos, o levantamento e racionalização dos circuitos e a formação de pessoal, (Dray, 1995).
A avaliação do trabalho de cada funcionário e, sobretudo, a avaliação de todos os serviços públicos são aspectos essenciais a ter em conta num contexto de desburocratização. Dahrendorf, no seu artigo já acima referenciado, questiona-se também sobre o modo como avaliamos a qualidade dos serviços públicos. Para Dahrendorf, os serviços públicos estão a funcionar quando o Estado é capaz de proteger, regular e responder às necessidades básicas dos cidadãos, necessidades que, na sua essência, são inerentes aos direitos fundamentais (Dahrendorf, 2004).
Outro aspecto tido em conta nos esforços de desburocratização consiste na implementação de medidas adequadas para melhorar o atendimento ao público. Para tanto são dadas aos funcionários orientações no que concerne ao atendimento em cada sector, o que supõe considerar aspectos como o uso de linguagem simples, cumprir o horário estipulado, se for o caso diminuir os documentos exigidos, celeridade no despacho dos requerimentos apresentados pelos cidadãos, etc. Ou seja, mudam-se os procedimentos para mudar a cultura administrativa.

Em suma, segundo Rocha a avaliação científica das políticas públicas esbarra, sistematicamente, com interesses, ideologias, informações e resistências institucionais. Mas claro, não acontece em todos os países pois existem diferenças significativas (...). O uso da avaliação depende de diversos factores: sistema democrático, sistema político competitivo, descentralização das políticas, background educacional e profissional dos políticos e ainda clima de racionalidade e natureza dos assuntos que constituem a agenda política (Rocha, 2010). Segundo Pacatolo trabalhos deverão ter em conta o nível de intervenção dos governos centrais e provinciais nos municípios angolanos para avaliar se a sua repartição tende a ser pro-rico (urbano) ou pro-pobre (rural). A produção de dados estatísticos sobre a realidade socioeconómica e demográfica dos municípios e províncias angolanas é um desafio urgente que precisa ser vencido no curto prazo, para minimizar as dificuldades com que se depara qualquer investigação cientítifica que se quer séria (Pacatolo, 2011).

Sempre a considerar,

Mestre Benvindo Luciano

Sociólogo e Docente Universitário

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